RIO - O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) disse nesta segunda-feira, em entrevista à rádio CBN, que não vai se intimidar diante das denúncias de que o ex-cabo da Polícia Militar, Carlos Ary Ribeiro, o Carlão, que fugiu do Batalhão Especial Prisional (BEP) em setembro, estaria articulando um plano para executá-lo . Marcelo Freixo afirmou que não recuará de seus planos de candidatura à Prefeitura do Rio.
- Acho que esse problema de subir em favelas não é só meu. Mas é um desafio. Já passei por isso na última campanha e tive que deixar de visitar comunidades dominadas por milicianos. Mas agora será diferente. Terei que ter um planejamento, mas vou enfrentar e fazer o que tem que ser feito. Temos que assumir essa fragilidade e enfrentá-la - declara Freixo.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também comentou nesta segunda-feira a ameaça do crime organizado a magistrados e a parlamentares, como o deputado Marcelo Freixo:
- Nossos efetivos da Polícia Federal não são suficientes para que se possa fazer toda uma cobertura em território nacional de autoridades estaduais.
Freixo disse ainda que reforçou sua segurança e que já entrou em contato com o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame.
- Recebi essa informação na sexta-feira do Serviço de Inteligência da PM. As ameaças aumentaram muito depois da morte da juíza Patrícia Acioli. Essa é uma informação que veio direto da PM, por isso tenho que levá-la a sério. Estou com a segurança reforçada e tomo as minhas precauções. Estou mudando a rotina, e o que nos resta é aumentar o cuidado - afirma o deputado.
De acordo com documento reservado da Coordenadoria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública, Carlão, que é ligado a um grupo paramilitar de Campo Grande, na Zona Oeste, receberia R$ 400 mil para matar o parlamentar, que presidiu a CPI das Milícias. O ex-PM já teria feito levantamento da rotina do político, inclusive dos horários em que ele dispensa a segurança da Assembleia Legislativa do Rio.
Carlão é ligado a grupos paramilitares de Campo Grande, agora, chefiados pelo ex-PM Tony Ângelo de Aguiar. Segundo investigações da Coordenadoria de Inteligência, Tony seria o financiador do suposto plano de atentado ao parlamentar.
Carlão fugiu do BEP menos de 24 horas após a Polícia Civil e a Secretaria de Segurança desencadearem uma operação contra a milícia da Zona Oeste . Na ocasião, 19 pessoas foram presas. O nome de Carlão figurava entre os que tiveram mandados de prisão expedidos pela Justiça. No caso do ex-PM, a determinação era para que fosse transferido do BEP para Bangu 8. Carlão, entretanto, fugiu da unidade prisional da PM antes de a mudança ser concretizada.
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Na ocasião, o então corregedor da PM, Ronaldo Menezes, disse que o ex-cabo escapou de sua cela pelo buraco do ar-condicionado, mas não explicou como o aparelho foi recolocado no local. A versão acabou questionada por promotores da Auditoria de Justiça Militar. No BEP, o ex-PM tinha transformado sua cela em suíte, com direito a cama de casal, ar-condicionado, TV, videogame e frigobar. Quatro meses antes da fuga, policiais da corregedoria e promotores encontraram um celular e um notebook na cela do ex-PM.
Suspeita de favorecimento dentro de unidade prisional
Um levantamento da Promotoria da Auditoria Militar revela que as fugas de quatro ex-PMs - entre eles, Carlão -- presos no BEP aconteceram às vésperas de transferências deles para presídios comuns. Para a promotora Isabella Pena Lucas, isso evidencia a prática de favorecimento na unidade:
- Não estou falando de um caso isolado, mas de quatro fugas que aconteceram quando esses ex-PMs seriam transferidos para o sistema prisional - ressaltou Isabella.
Comissão indiciou 225 pessoas
A CPI das Milícias, presidida por Marcelo Freixo, indiciou 225 pessoas, entre elas políticos, policiais civis e militares, além de bombeiros. O trabalho da comissão trouxe à tona o domínio territorial de vários desses grupos paramilitares. Principalmente em Campo Grande, onde os irmãos Natalino e Jerônimo Guimarães, respectivamente, ex-deputado estadual e ex-vereador, chefiavam a maior milícia da região. As investigações da comissão, associadas a inquéritos da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), resultaram nas prisões dos políticos e de vários integrantes da milícia.
Apesar de enfraquecido, o grupo paramilitar de Campo Grande continua atuando. O ex-PM Tony Ângelo de Aguiar estaria por trás do crime que era planejado contra o parlamentar, atendendo a ordens de Natalino, Jerominho e Ricardo da Cruz Teixeira, o Batman. Todos condenados e presos em penitenciárias federais fora do estado.
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