Companheir@s,
No próximo dia 21, domingo, às 9 horas da manhã, realizaremos a próxima (e provavelmente última) sessão do projeto "Domingo é Dia de Cinema".
O filme será "O Veneno está na Mesa", sobre a questão dos agrotóxicos.
Mas aí vai um comentário pessimista: não creio que o veneno esteja somente na mesa. Creio que já está, também, nas nossas mentes...
Na última sessão que realizamos, que foi no dia 10 de julho, compareceram nada mais do que 80 pessoas.
E não esqueci nenhum zero aí. Bem que poderiam ser oitocentas pessoas, pois o filme apresentado, "Cortina de Fumaça", que trata do tema das drogas, é um filme maravilhoso, que a meu ver presta um ÓTIMO serviço para a humanidade; o debate também foi bastante construtivo (ou destrutivo, se queremos desconstruir o que está posto aí fora); e o tema, mais do que importante para o vestibular, é importante para as nossas vidas (uma vez que a chamada "guerra às drogas" destrói e mata mais do que as próprias drogas, e sabemos de que lado morrem mais pessoas, de que lado estão as famílias que mais são destruídas por esta "guerra", e qual é a classe, a etnia, a cor, o sexo, o bairro, afetados por esta suposta “guerra às drogas”).
Mas, infelizmente, compareceram somente oitenta pessoas. (infelizmente para nós, óbvio, para o governo, para a elite, quanto menos pessoas discutirem isso, melhor).
Me lembro daquela que tinha, até então, sido a sessão mais vazia da história do projeto.
Foi quando passamos o filme “Saindo do Armário”, com a proposta de debater o tema da homossexualidade.
Foram 120 pessoas (um record de baixa frequência), e isso porque “não somos homofóbicos”...???
Então pensamos: pra que (e para "quens") serve, hoje, este projeto?
Serve para nós (os que estamos indo nas sessões), para assistirmos a filmes magníficos (pelo menos na minha opinião), debatermos vários temas, e sairmos com mais conhecimentos sobre determinados temas?
Certamente que sim.
Eu, particularmente, me sinto sempre "melhor", mais esclarecido, a cada sessão.
Mas certamente não precisamos do Odeon para isso.
Oitenta pessoas cabem, se for o caso, até na nossa sala de aula, e sem as aporrinhações de pagar dois reais, pagar passagem, agendar com o Odeon, etc e tal.
Quanto a isso, não vejo problema.
Mas e os que não estão indo: (alun@s, professoræs, ex-alun@s), não estão indo por qual (ou quais) motivos?
Será que os temas debatidos não são interessantes?
Será que estes temas são interessantes, mas só são importantes "para os outros", pois algumas pessoas já estão “formadas politicamente”, e já sabem tudo sobre os temas apresentados?
Será que o dia é ruim (domingo), e colocar no sábado faria diferença?
Será que o horário (9 da manhã) é muito ruim, e o melhor seria que as sessões fossem à tarde?
Será que queremos (ou acreditamos) realmente na Revolução?
Será que este projeto já deu o que tinha que dar, e agora o melhor a fazer é acabar com ele e partir para outro?
E, neste caso, o que fazer com as pessoas que NUNCA foram, e provavelmente, NUNCA irão ao Odeon ver algum tipo de filme (pelo preço, pela cultura de exclusão, pelo próprio tipo de filme que passa lá, etc e mais etc...)?
Não que o Odeon seja “nosso”, ou algo “tão maravilhoso” que tod@s têm que conhecer.
O Odeon é “só” um cinema, porém é o último que resta (fora dos shoppings), e que ainda permite a entrada de negr@s, de pobres, de trabalhadoras, e para verem filmes realmente interessantes.
Nos shoppings (da baixada, da Zona Oeste – exceto Barra – e das Zonas Sub-urbanizadas) a entrada destes “tipos de gente” é até permitida (“mas vocês vão ver os tipos de filmes que mostraremos a eles...”).
“Bruna Surfistinha” (pra quem quiser vencer rápido na vida), “Velozes e Furiosos 15” (pra aprender a dirigir no Rio de Janeiro), “Velocidade Máxima” (deve ser pra própria idiotização), e “Duro de Matar 25” (pra aprender a ser um policial de verdade) são apenas alguns dos “maravilhosos representantes” desta que se diz “a sétima arte”.
Na verdade, não vejo problema em se assistir a filmes deste tipo (eu já assisti a piores, com certeza). O problema está em só ter a chance de assistir a isso, e ser criminosamente impedido (por várias razões não-desconhecidas) de assistir a outros tipos de filme, e que toda a elite (e alguns de nós, felizardos, também) assistem direto!
Filmes como “Cortina de Fumaça” (já falei), “O Corte”, “O Que Você Faria”, e tantos outros que, nestes 11 anos de projeto, nos presenteamos, com debates maravilhosos e presença de pessoas como Paulinho Chinelo, João Pedro Stédile, Carlos Walter (e a melhor aula de América Latina que já tive na vida), e tantos outros, que jamais (JAMAIS) teríamos conhecido (pelo menos a grande maioria de nós).
Que fazer? Ver filmes apenas nas nossas casas?
Pagarmos 20 reais (ou mais) nos cinemas da Barra e Zona Sul?
Fazer as sessões nos prés, apenas para as pessoas de cada pré?
Deixar tudo pra lá e continuar a fazer as sessões pra 70, 60, 50 ou sei lá quantas “menos” pessoas?
São muitas perguntas, e, obviamente, não sabemos as respostas.
O que sabemos é que, muito provavelmente, esta será a última sessão.
E, só pra piorar a nossa esperança, não foi o Odeon quem nos tirou (por eles, nós continuaríamos lá sem nenhum problema).
Aliás, como oitenta pessoas podem “dar problema”???)
E também não foi a polícia militar, não foi a elite, não foi o prefeito e sua política de desocupação, e nem foi a atual crise econômica, o desemprego, a dengue, as olimpíadas ou a copa, a operação asfalto liso ou a Transcarioca quem nos tirou de lá.
Quem nos tirou, pasmemos nós (ou não), fomos nós mesmos.
O veneno (e o inimigo), desta vez (e só desta vez???), está dentro de nós.
Até a próxima,
Há braços (embora, em alguns casos, não saiba como usá-los),
Marcos.
Imagem extraída do Google
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